Existe na freguesia de Maceira,
concelho de Leiria, junto à Igreja Matriz de Nossa Senhora da Luz, a sul da
estrada que por ali passa e após uma escarpa, uma zona baixa (barroca)
conhecida por “Barroquinha” ou “Senhora da Barroquinha”, por ali ter sido construída
uma capela a Nossa Senhora.
A antiguidade deste local perde-se
na vastidão dos tempos mas já no século XVII ele é referenciado no “Couseiro ou
Memórias do Bispado de Leiria”, obra de autor anónimo, certamente eclesiástico,
escrita cerca do ano de 1657.
Além da capela, construída no século
XVII, existem também referências a uma antiga fonte da mesma época. Porém, sobre
a actual fonte existe uma placa com data de 1780, certamente uma indicação de
que a fonte foi restaurada nessa data. Existe também um nicho com uma pequena
imagem de Nossa Senhora de Fátima.
À esquerda, uma bonita cascata desce a abrupta
escarpa dando origem a um pequeno ribeiro.
Encontrei casualmente um texto,
aqui, com autoria de Luciano Cristino, que elucida perfeitamente o lugar e toda
a envolvência:
«É possível que o culto mariano se
tenha iniciado, nas Barrocas, muito antes do século XV ou XVI, época da imagem
de Nossa Senhora com o Menino, ainda hoje ali existente.
A mais antiga referência conhecida à
ermida, fonte e cascata é do Couseiro ou Memórias do Bispado de Leiria, obra
escrita cerca do ano de 1657: “Por baixo das casas do cura desta igreja (de
Nossa Senhora da Luz de Maceira), na concavidade que faz a altura dela, ao
sítio do adro, está um oratório que fez um devoto, e nele a imagem de Nossa
Senhora (que estava antes no mesmo lugar, em uma lapa, que se fazia no dito
barrocal) ; é a imagem de vulto, com um nicho de pedra doirado, em um altar; em
que no ano de 1654 se deu licença para se dizer missa, a instâncias de João
Francisco, de Maceira (Maceirinha), que fez o oratório e o dotou; consta do
livro 3º do Registo (da Chancelaria do Bispado), fl. 132, na volta. O orago é
de Nossa Senhora da Guia, que lhe deram os devotos da Pederneira, que vêm ali
em romaria, e dantes se chamava do Barro, e ainda muitos lhe chamam da
Barroquinha; é de romagem. E junto a este oratório está uma fonte, em que se
lavam os romeiros para remédio de suas enfermidades; e da eminência do dito
barrocal cai um regato de água, que daí vai correndo e faz o sítio alegre.”
Num livro de casamentos da freguesia
de Maceira, o padre João Tavares, cura de Maceira, deixou anotado, talvez
depois do falecimento de João Francisco (1682), que fora este que “mandara
fazer, por sua devoção e à sua custa, a Ermida de Nossa Senhora da Guia, no
sítio da Barroca”. Em 1721, o Padre Luis Vieira de Sousa, natural de Maceira e
também seu pároco, diz que, quando a imagem apareceu na lapa, a levaram para a
igreja paroquial, mas “a Senhora tornara ao mesmo lugar”. Por isso, na mesma
barroca, fizeram “um telhado sobre umas colunas de pedra onde esteve a Senhora
muitos anos, e conta-se que aí a iam visitar os fiéis com suas ofertas, e
tivera ocorrência de romagem, que não há já há anos”. Acrescenta ainda que João
Francisco, por alcunha “o Rico”, mandara fazer a capela “e lhe deu no mesmo
sítio um serrado ou courela de terra para a fábrica da dita capela, e, com
efeito, rende para a Senhora”. Mas em 1758, a imagem de Nossa Senhora da
Barroquinha estava na igreja paroquial, por se achar a dita ermida arruinada há
muitos anos.
Depois de 1780, data que se encontra
por cima da fonte, numa das inscrições ali existentes, a capela foi também
restaurada, porque o frontal de azulejos do altar, com motivos florais, da
Fábrica do Juncal é dos finais do século XVIII.
Cerca de cem anos depois, de Julho
de 1887 a Setembro de 1888, o Santíssimo Sacramento esteve guardado na capela,
enquanto duraram as obras da igreja paroquial, benzida no dia 6 de Outubro
desse último ano. O Cónego José Pereira da Costa, ilustre pároco de Maceira,
depois de falar da capela, escreveu em 1900: “Junto desta capela está a
pitoresca e formosa cascata, medindo 16 metros de altura, que tem merecido as
visitas de tanta gente, que de bem longe tem vindo admirá-la. É um sítio
deveras encantador e que bem merece as atenções do visitador competente e
entendido, já pelas formosas estalactites que ali se encontram, já pelos
variadíssimos tufos de verdura que deliciam os olhos do observador. Admira-se, não
se descreve...”
No decorrer das décadas de 1940 e
1950 e no ano de 2000 houve obras de beneficiação do sítio de Nossa Senhora da
Barroquinha que incluíram também novos restauros da capela.
No ano de 1942, fora inaugurado ali
um formoso monumento a Nossa Senhora de Fátima, infelizmente já desparecido,
obra do artista maceirense José Pedro.
O Vale onde se encontra a ermida é
caracterizado pela sua escadaria [que vinda de Este contorna a escarpa], e
pelos vários muros de pedra que definem os contornos do local. A cascata com os
seus 16 metros de altura é (…) completada pelo pequeno lago. A bica de água
existente ao lado da ermida e muitas sombras com pequenas mesas e bancos de
pedra tornam este local repousante.»
Na base da escarpa, de aspecto
recente, existe também uma imagem de Nossa Senhora de Fátima e os Pastorinhos.
Nas obras de melhoramento do local,
executadas no ano de 2000, foi acrescentada uma nova escadaria de acesso,
virada a Oeste, ladeada de algumas mesas em madeira para piquenique. Porém,
actualmente, por falta de manutenção, tudo está um pouco arruinado.
Antigo acesso à barroca, à capela
e à fonte
A capela
Interior da capela
Imagem da Senhora da
Barroquinha no interior da capela
Imagem da Senhora de
Fátima e os Pastorinhos
A fonte
A bica da fonte
Inscrição
em placa acima da bica:
VINDE
A FONTE DE MARIA
SENHORA
DA BARROQVINHA
E
DEIXAI VOSSA ESMOLINHA
EM
LOUVOR DA VIRGEM PIA
MOSTRAILHE
COM ALEGRIA
O
VOSSO AGRADECIMENTO
POR
VER CO MAIS LUZIMENTO
SOBRE
ESTA AGVA CRISTALINA
A
QVE ESSAS AGVAS DOMINA
QUE
ESTAM SOBRE O FIRMAMENTO
Inscrição
em placa na parte superior da fonte:
QUI
FONTEM QUAERIS SITIENS HIC SISTE VIATOR
ET
MENTEM, ET CORPUS DUPLICE FONTERIGA
VIADOR
QUE SEDE PASSAS
JVNTO
DA CLARA CORRENTE
REPARA
OBSERVA EMINENTE
HVM
MANANCIAL DE GRAÇAS
HE
BEM QUE REFLEXAM FAÇAS
SOBRE
QUANTO TENS DE FRONTEE
MARIA
DE GRAÇA HUM MONTE
MATA
A SEDE DA TUA ALMA
AQUI
PARA ARDENTE CALMA
CORRE
A CRISTALINA FONTE
-
1780 -
Nova escadaria de
acesso
A cascata
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